ESG e Gestão Financeira, essas irmãs siamesas

Qual é o objetivo de se abrir uma empresa? Gerar dinheiro. Vivemos em um modelo capitalista. Se não fosse esse, não seria empresa e sim uma ONG, uma fundação, uma oscip ou qualquer outra modalidade jurídica. E como se gerencia dinheiro? Com gestão financeira. Acontece que hoje há um consenso global de que para gerar dinheiro é necessário gerar valor. Não há mais possibilidade de um sem o outro. E não é para ser politicamente correto. É que o mundo dá sinais evidentes de que gerar dinheiro será cada vez mais caro. Por quê? Crises climática, humanitária, social, sanitária, cultural, política e pode abrir espaço nessa lista que ela é grande. Tudo o que a própria humanidade criou até aqui, com as próprias mãos, agora volta-se contra ela. E cobra a conta, com juros de banco.

É nesse contexto que surgem as necessidades de propósito, geração de valor, visão de longo prazo e gestão de indicadores não financeiros, a tal gestão ESG, com os quais as empresas vão contribuir com seu quinhão para minimizar essa quantidade enorme de crises que estamos vivendo. E gerar mais dinheiro.

Então elas agora são siamesas. Gestão financeira e ESG. Dividem cérebro e coração. Inteligência e força. Não dá para separar uma da outra. E isso não é novo. É que até pouco tempo a conta não estava sendo feita corretamente. Privatizava-se o lucro e socializava-se os prejuízos. Tudo era de quem chegasse primeiro até que começou a faltar. Preciso dizer que ao acabar de escrever essa frase me lembrei do filme O Poço, do diretor Galder Gaztelu-Urrutia. É tão pesado que nem sei se recomendo. Mas, retomando, a ausência gera todo tipo de reação adversa.

A ausência de diversidade nas empresas, por exemplo, que é fruto de uma série de desigualdades sociais, ajudou fortemente nas decisões erradas que foram tomadas desde o início da era pré-industrial. Os erros aceleraram, entre outras coisas, o desmatamento e o aquecimento global, E agora as empresas estão começando a entender que quanto mais pontos de vistas que só a diversidade pode trazer, seja de gênero, etária, racial, cultural, e outras, maior é a visão do todo. E essa visão sistêmica propicia a mitigação de riscos e mais oportunidades de inovar e gerar dinheiro.

A corrupção é outra consequência de uma série de ausências, não só de vergonha na cara. Entrou tanta gente no bonde que para as empresas ser correto é mais barato e mais fácil de gerenciar, alem de ser simplesmente o certo a se fazer. Empresas com governança e compliance têm poder de reduzir a corrupção, de errar menos, de ser mais resilientes e, principalmente mais anti-frágeis.

A fórceps essas atenções à gestão siamesa, ou integrada, vem chamando a atenção dos líderes mais vanguardistas. Quanto mais eles aproximam-se e escutam os seus públicos de relacionamento, as empresas mais atuam com eles pela redução das desigualdades e ausências. Quanto mais revelam seu propósito e compartilham valor com a sociedade, mais geram dinheiro. Então, olha só, não é mais uma questão de gestão financeira e não financeira. É assim que se ganha dinheiro agora, entendeu?

Tem muitas empresas que já entenderam e seguem voando orientadas pelos seus propósitos, metas claras e caminhos mapeados. Elas não mais humanitárias que as outras. São melhores em administração mesmo. A estratégia ESG e a financeira são uma só. É uma nova escola de administração. E aplicar os conceitos mais que aprendidos e compreendidos nos indicadores financeiros para os indicadores não financeiros garante que mais de 90% da jornada ESG está dada.

Dá até para fazer um espelho – mesmo número de pessoas na gestão financeira e não financeira, atribuições de gestão não financeira para todos que tenham atribuições de gestão financeira, demonstrações financeiras e não financeiras, demonstração de valor adicionado (dva) com informações não financeiras, ou seja, onde houver finanças, há que haver não-finanças. Aí você vai ter o real impacto da empresa no mundo. E poder dizer que tem gestão ESG.

Sobre a autora

Velma Gregório é consultora de Sustentabilidade/ESG desde 2005. MBA em Sustentabilidade na FGV, com cursos em controladoria, gestão de negócios nacionais e internacionais, finanças, economia, treinamentos em diversas metodologias de disclosure ESG, tais como GRI, TCFD, Relato Integrado, SASB, conhecimento em Índices de Sustentabilidade empresariais, tais como ISE, DJSI. Jornalista de formação, especializou-se também em Comunicação Corporativa.